Oi, olá, hello, ciao!
Se a gente ainda não se conhece, prazer, Ana Possas! Te convido a ver mais no “sobre”. Se você já é de casa, bem, fique à vontade! 😉
Cernusco Sul Naviglio, 12 de março de 2024
Ontem, enquanto andava até a portaria para pegar uma encomenda, percebi várias margaridinhas no gramado do condomínio. Não foi preciso muito para ser tomada por aquela sensação, já tão familiar desde 2017, de que as coisas começaram a mudar.
O dia ensolarado de hoje confirma: há qualquer coisa de mais alegre no ar. Até a rua está mais barulhenta, o que me lembra que não demora e saio eu, também, do meu processo de hibernação.
Não, eu não passei os últimos meses dormindo, mas já faz um tempo que deixei de querer remar contra as estações do ano — enquanto elas ainda se fazem tão presentes — e comecei a deixar que elas também aconteçam em mim.
Assim, aprendi a guardar os dias de inverno para, em vez de me revoltar contra o frio e a chuva lá fora, buscar o que é capaz de me aquecer aqui dentro.
Desde que voltei do Brasil, assim tem sido. Dias regados a chá quente e pernas estiradas sob as cobertas durante o expediente, constância na academia para garantir a endorfina e horas a mais de sono entre séries, livros e filmes. Também tenho tentado deixar as coisas em ordem antes que as temperaturas comecem a subir e eu logo seja absorvida pelo siricutico de estar na cidade.
Os últimos meses foram diferentes. Sem a ansiedade pela mudança de país do ano passado ou pela sobrecarga de trabalho do ano retrasado ou pela tensão da pandemia dos dois anos anteriores.
Pela primeira vez, em muitos anos, tenho conseguido, com alguma calma, analisar e planejar tudo o que preciso fazer para ser melhor no meu trabalho, bem como compreender e resgatar aquilo que me alimenta como pessoa e que nem o algoritmo mais potente é capaz de saber/escolher sobre/por mim. Estou reencontrando aquela Ana que, mesmo com todo o caos do mundo, ainda se permite sonhar um pouco.
Arrisco dizer que foram os melhores meses em muito tempo.
Agora, as margaridas já estão no gramado, as ruas estão mais barulhentas e os dias começam, piano piano, a ficar mais longos. Que delícia sentir a primavera chegando!
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Como a data indica, escrevi o texto acima há quase um ano, em um dos cadernos de todas as coisas que eu carrego pra lá e pra cá e uso, inclusive, como diário. Não é um texto comum porque tenho uma tendência a escrever mais sobre emoções ruins do que sobre emoções boas, transformando muitas páginas em branco em verdadeiros poços de angústia.
Confesso que, ao reler, acho até um pouco brega, mas foi bom e importante fazer o exercício de rebobinar a vida até aquela manhã de boas sensações e me lembrar de que elas, as boas sensações, também podem estar disponíveis para consulta no acervo da memória. E porque sim, gosto muito de como eu me sinto aos primeiros sinais da primavera.
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Também tenho a sensação de ter escrito esse texto há uma vida. Ou melhor, há duas vidinhas breves e revolucionárias. Afinal, poucas coisas podem ser tão avassaladoras quanto o combo amor e luto.
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Certa vez, em uma das minhas pesquisas sobre doenças no Google, descobri o trabalho inimaginável que o nosso corpo faz para nos manter com vida. Nossa pele, por exemplo, é um órgão fantástico. Basta um pequeno corte para que diferentes células entrem em ação e se multipliquem continuamente, acelerando a cicatrização da ferida.
Só há um porém: dependendo da profundidade do corte, a cicatriz pode não ser visível a olho nu, mas aquele pedacinho de pele nunca mais será exatamente como antes.
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Acho que o que vem antes do luto se parece com isso, mas com uma diferença: a morte não é só um cortezinho, é uma mordida. Dessas que pegam a gente desprevenida mesmo quando estamos à sua espera.
Diante dela, não importa o quanto a nossa pele seja capaz de cicatrizar, a única alternativa é aprender a viver sem aquele pedaço.
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Meu mapa natal prenunciou: serão muitas as mordidas ao longo da vida. E têm sido. Mas quanto mais pedaços eu perco, mais eu olho e tento valorizar a parte que fica. Que assim seja, até o dia em que eu já não veja mais as margaridas.
Quinta-feira, 7 de março de 2024
Em algum lugar do mundo, uma empresa prepara uma festa que inclui a entrega de flores e uma aula de automaquiagem para as suas colaboradoras. Em outro, cartões decorados com textos sobre a “magia” de ser mulher são confeccionados. Centenas, quiçá milhares de mensagens com gifs, brilhos e música brega estão sendo resgatadas dos telefones para serem disparadas pelo Whatsapp com um “Parabéns pelo Dia da Mulher”.
Enquanto isso, também em algum - ou vários - lugares do mundo, uma mulher será questionada sobre os seus planos em relação à maternidade em uma entrevista de emprego. Outra receberá uma carta de demissão por ter acabado de se tornar mãe. Outra terá que abandonar os estudos para cuidar dos filhos ou de algum familiar doente. Outra terá uma bolsa de financiamento para sua pesquisa científica negada. Outra passará a ser invisibilizada apenas por ter entrado no grupo das 40+.
E assim vivenciamos mais um dia Internacional da Mulher.
Já que temos uma edição de newsletter bem de volta para o ano passado, trago a introdução de um dos últimos textos que escrevi como redatora da CoolBox, newsletter da minha ex-cliente CoolHow. Infelizmente, o texto não envelheceu mal e seus dados seguem dizendo muito. Aqui:
Mais para conhecer, assistir e ouvir, não necessariamente nessa ordem
🗣️ Roda de conversa sobre desafios e conquistas das mulheres nas indústrias criativas
Para quem estiver em Lisboa amanhã, 08/03, minha amiga Amina Bawa estará ao lado de Leonor Bettencourt Loureiro e Ly Takai para uma conversa sobre a invisibilidade das mulheres nas indústrias criativas, mediada por Marta Costa. O encontro pretende promover uma reflexão sobre a falta de representatividade, barreiras estruturais e desafios para ocupar posições de destaque, apontando caminhos e soluções para promover maior equidade e reconhecimento feminino no setor.
📍 Local: Duro de Matar, Hub Criativo do Beato
🕕 Horário: 18h
📸 As fotos nunca vistas de Vivian Maier
Imagine passar a maior parte da vida trabalhando como babá e, no tempo livre, fotografando anonimamente o cotidiano das cidades onde vive. Você acumula uma experiência e um acervo incríveis, mas só tem seu trabalho como fotógrafa valorizado após sua morte, quando é tarde demais.
Esta é parte da história da fotógrafa Vivian Maier (1926–2009), cujo acervo de mais de 100 mil negativos foi descoberto inesperadamente em 2007, quando caixas com seus pertences foram leiloadas por falta de pagamento de armazenamento.
Maier nunca conseguiu viver da fotografia. Foi John Maloof, um dos compradores de seus negativos, quem revelou seu trabalho ao mundo, organizando exposições e dirigindo o documentário Finding Vivian Maier (2013), indicado ao Oscar. Desde então, Maier tem sido reconhecida como uma das grandes fotógrafas do século XX.
Suas imagens capturam momentos espontâneos e expressivos da vida urbana, principalmente de Chicago e Nova York, com um olhar sensível para as relações humanas e os jogos de luz e sombra. Além dos retratos de estranhos nas ruas, Maier também registrou diversos autorretratos enigmáticos.
Recentemente, tivemos a oportunidade de ver um pouco de tudo isso na exposição Unseen: as fotos nunca vistas de Vivian Maier, no Palazzo di Monza. É tristíssimo que tanto talento não tenha sido reconhecido em vida, e que ainda hoje essa seja a história de tantas mulheres.






📽️ Documentário: Witches (2024)
A depressão pós-parto abordada de uma forma que você nunca viu. Escrito e dirigido por Elizabeth Sankey, o documentário britânico explora as conexões entre a saúde mental perinatal e a representação das bruxas na sociedade ocidental e na cultura popular.
Em um trabalho de edição sinestésica bem interessante, o filme intercala trechos de filmes icônicos sobre bruxas e mulheres em estados alterados de consciência (como O Bebê de Rosemary, The VVitch, O Mágico de Oz, entre outros) com imagens documentais e relatos pessoais de Sankey, de algumas de suas amigas e de profissionais de saúde.
Assisti pelo MUBI, mas pode ser que também esteja disponível no Prime.
🎙️ Podcast: O corre delas
No ano passado, gostei bastante dos episódios que ouvi do podcast O corre delas, conduzido pela jornalista Luanda Vieira. Para quem ainda não conhece, o programa aborda as trajetórias profissionais de mulheres de forma realista, discutindo desafios, conquistas e experiências, sem romantização. Gosto, sobretudo, da abordagem interseccional que Luanda adota, considerando os diversos recortes necessários para entender a realidade das mulheres no Brasil.
Enquanto isso, na Pessoa Jurídica
👩🏻🏫 Mais um curso sobre IA
Ainda na onda de mulheres para acompanhar, sou fã do trabalho da
. Em fevereiro, comecei o curso O futuro da criação: IA - teoria e prática, facilitado por ela, e olha, tem valido cada sábado em frente ao computador. Diferente de muitos cursos sobre o assunto, que focam em ferramentas, Olivia traz uma carga teórica fundamental para que possamos pensar criticamente sobre o tema. Só a terceira aula valeu todo o meu investimento.💡💻 Nos bastidores
No fim de janeiro, fiz um plano meticuloso para cumprir entre fevereiro e julho de 2025, dividido por metas mensais e com foco na conciliação da tríade trabalho, aprendizagem e criação. Se o experimento der certo, compartilho os ~ insights valiosos ~ que eu tiver depois. Pra já, terminei fevereiro assim: 🥳
🍾 Celebrando um novo cliente
Por falar em fevereiro, também iniciei o mês bastante animada com a chegada de um novo cliente de consultoria. A empresa está em São Paulo, mas o objetivo é fazer uma ponte com muito do que acontece por aqui quando o assunto é design e arquitetura também.🖌️🎨
Em outras redes
Já nos conectamos pelo LinkedIn?
E pelo Instagram?
Mesmo em hiato, ainda te convido a ouvir o Ouvidorama, meu podcast. As conversas continuam atuais.
👋🏼 Até a próxima!
Tanta coisa que eu queria te dizer, Ana, mas vou resumir nisto aqui: 💛