Tá todo mundo saindo do Instagram?_parte 2
Uma grande volta para, no fim, chegar ao mesmo lugar
Oi, olá, hello, ciao!
Se a gente ainda não se conhece, prazer, Ana Possas! Te convido a ver mais no “sobre”. Se você já é de casa, bem, fique à vontade! 😉
Na parte 1, contei sobre a experiência e as conclusões que tive depois de passar o ano de 2017 fazendo postagens diárias no Instagram. Finalizei o texto dizendo que, talvez por isso, quando lá em 2019/2020 eu vi os gurus de marketing incentivando as pessoas a fazerem dois posts e dez stories por dia para terem sucesso, meu pensamento não foi outro senão: “isso vai dar muito ruim” 😬.
🫤 Corta para 2025 e: parece que tá dando ruim! Por muitos motivos
Antes de mais, é importante que você saiba que o que vem a seguir é fruto de opiniões e pesquisas pessoais, cruzadas com experiências de mais de 15 anos de trabalho com comunicação e marketing digital 👩🏻💻. Ou seja, falo como usuária e também como profissional por trás de diferentes contas de redes sociais ao longo desses anos.
Ainda assim, uma edição de newsletter é pouco para falar do impacto sistêmico dessas plataformas em nossas vidas e o meu olhar, assim como o de qualquer outra pessoa, pode ser enviesado. Por isso, fique à vontade para acrescentar seu próprio ponto de vista nos comentários ou respondendo a este e-mail.
Para facilitar a leitura, tentei dividir o texto em tópicos, com entretítulos que buscam seguir uma linha de raciocínio com princípio, meio e fim, começando pelos motivos pelos quais nossos cérebros parecem deteriorados, ou, como diriam na minha terra, andamos zureta 🤯 das ideias.
1. O ritmo é insustentável para quem cria
Em 2017, meu trabalho com redes sociais fazia parte de um planejamento de comunicação maior e era realizado para uma única empresa, dentro do horário comercial. Isso me leva à percepção de que, por volta de 2017/2018, ainda era possível manter um ritmo mais ameno de publicações, mesmo que o ambiente online já estivesse saturado de conteúdo.
Foi a experiência recreativa de fazer um post por dia no Instagram, sem pausas, que me fez perceber que a frequência diária de criação pode até funcionar no curto prazo, mas, a menos que haja toda uma equipe de profissionais envolvida no processo, torna-se insustentável por muito tempo.
Nossa cultura do imediatismo, acentuada pela própria tecnologia, banaliza o pensamento de longo prazo. Em parte, podemos até justificá-la pela pandemia, que nos tirou temporariamente qualquer perspectiva de futuro. Por isso, arrisco dizer que, lá em 2020, é provável que ninguém tenha se feito a pergunta: “Mas, peraí, eu vou continuar dando conta de tudo isso que estou fazendo agora em 2025?”
Hoje, se pararmos para pensar no trabalho que uma comunicação bem feita exige, no tempo que pensar-pesquisar-criar-postar-monitorar-e-interagir consome e na imposição de fazer isso diariamente, e com “autenticidade”, parece óbvio que estamos falando de um prato cheio para o burnout. 😵💫
Por fim, vale dizer que o Instagram subverte qualquer lógica meritocrática. Não importa o quanto a gente estude, se aprofunde em determinados temas ou leia sobre certos assuntos: a menos que sigamos todas as regras e tenhamos nossa imagem exposta ao limite, nunca seremos bons o suficiente sob a ótica algorítmica.
2. É impossível acompanhar e absorver tanto conteúdo
Voltemos ao desserviço conselho de dois posts e dez stories por dia.
Faz o cálculo comigo: dez stories de 15 segundos por dia resultam em 150 segundos de stories, o equivalente a dois minutos e meio. Suponhamos que uma pessoa siga outras 20, todas criando a mesma quantidade de conteúdo. O resultado seriam 50 minutos de atenção para stories, além de sabe-se lá quanto tempo de rolagem do feed para visualizar os 40 posts.
Agora, imagina que ninguém segue apenas 20 pessoas e que, além dos stories, também há os reels, os chats e as listas de transmissão. O algoritmo entrega cada vez menos, e a atenção está pra lá de fragmentada. A saída é investir em anúncios ou viralizar a todo custo.
Temos o feed, os stories, os reels, os chats, as listas de transmissão, o Threads e os anúncios. A repetição de trend atrás de trend. Quando não isso, a superexposição da própria rotina e/ou da família. Um espaço convertido em um grande mercado digital, onde ninguém consegue vender nada de forma sutil, precisando gritar o tempo todo que “O patrão ficou maluco”, o que nos leva ao próximo tópico. 📢
3. A experiência deixou de ser gostosinha, embora continue viciante
Além do volume de conteúdo e dos efeitos psicológicos resultantes das comparações e dos inúmeros gatilhos, a experiência de usabilidade do Instagram também se transformou muito ao longo dos anos. Isso até faz sentido, já que a plataforma também precisa lidar com sua concorrência.
Mas é curioso pensar que uma rede social criada para a apreciação estética hoje se pareça tanto com aqueles sites cheios de pop-ups e música que acessávamos — sempre em um momento inoportuno — no início dos anos 2000.
Por mais que filtremos nossas experiências e escolhamos as pessoas que queremos seguir, há mecanismos dentro da plataforma que continuam um mistério. Quer um exemplo? Faz meses que não pesquiso nada sobre gravidez 🧐. Pelo contrário, meus interesses ali são outros. Ainda assim, toda vez que abro a aba "Pesquisar", continuo vendo apenas testes de gravidez e pessoas grávidas.
Outra questão é o acesso passivo e automático. Qual foi a última postagem que realmente nos causou um efeito “uau”? Quantas vezes abrimos o aplicativo sem nem saber o que estamos fazendo ali? Quantos likes damos sem sequer ler a legenda ou assistir ao vídeo completo? Quantos stories nós vemos, mas não vemos?
📈 E tem mais gente chegando
Contrariando a percepção que temos em alguns momentos — principalmente dentro do Substack — o uso do Instagram não vem diminuindo. Pelo contrário, sua curva de crescimento continua ascendente. Pelo menos, é o que apontam as duas últimas pesquisas da Opinion Box sobre a utilização da plataforma.
De acordo com o relatório mais recente de 2025, somente no Brasil havia cerca de 134,6 milhões de contas ativas no Instagram em janeiro de 2024, sendo a mídia prioritária para 64% da amostra de respondentes.
📊 ”Na pesquisa de 2021, o Instagram ainda perdia para o Facebook como a rede mais usada pelos brasileiros. Já em 2022, passou a ser a rede social mais utilizada no país. No início de 2023, era a mais acessada por quase metade da amostra (49%) e, atualmente, saltou para incríveis 64%!”
Relatório sobre o Instagram em 2024, Opinion Box.

📉 Mas sim, tem gente abandonando também (só não é todo mundo)
No último mês, notei que mais de 30 perfis que me seguiam foram desativados. Em alguns casos, vejo isso como uma forma de protesto contra as declarações de Mark Zuckerberg sobre a eliminação da checagem de fatos da Meta em defesa da liberdade econômica de expressão. Em outros, percebo que a desativação é resultado da exaustão causada pelo excesso de conteúdo.
Se, por um lado, o número de usuários e o tempo despendido no Instagram continuam crescendo, por outro, as tentativas de abandono, a redução do tempo de acesso e a migração para outras redes sociais têm se tornado mais frequentes. Isso é perfeitamente justificável dentro do ciclo de inovação e adoção de um produto, serviço ou tecnologia.
Para explicar melhor, vou recorrer ao Modelo de Difusão da Inovação, de Everett Rogers, amplamente utilizado em pesquisas de tendências. O conceito é simples: por meio de uma curva, Rogers demonstra como novas ideias, produtos ou tecnologias se espalham na sociedade, classificando os “adotantes” em cinco grupos, de acordo com a rapidez com que adotam a inovação.
Inovadores (2,5%): pessoas aventureiras e dispostas a correr riscos para experimentar algo novo.
Primeiros Adotantes (13,5%): influenciadores e formadores de opinião que ajudam a popularizar a inovação.
Maioria Inicial (34%): grupo mais pragmático, adota a inovação quando vê benefícios claros.
Maioria Tardia (34%): cética e mais resistente, adota quando a inovação já se tornou padrão.
Retardatários (16%): tradicionalistas que resistem ao máximo e só adotam quando não há outra opção.
O modelo mostra que a aceitação de novas ideias ocorre gradualmente e que influenciadores e fatores sociais são essenciais para que uma inovação se torne amplamente aceita. Trazendo para a realidade do Instagram, isso explica o fato de muitas pessoas — especialmente aquelas que estavam lá quando “tudo era mato” — estarem abandonando ou reduzindo sua presença na plataforma justamente no momento em que ela se torna mais popular.
🤔 Ainda assim, por que é tão difícil abandonar essa lógica?
A pergunta seria: quem pode abandonar essa lógica, hoje? Ela foi orquestrada para que desenvolvamos nossa marca pessoal, possamos vender produtos e serviços, estejamos em conexão com nossas amizades e tenhamos medo de estar perdendo algo.
Se o Instagram tem se tornado um desafio para quem o utiliza sem compromisso, imagine para quem trabalha com a rede social. Aliás, sempre que o tema surge em conversas com colegas de profissão, as reclamações são as mesmas: muito trabalho para pouco resultado ou um resultado extremamente efêmero, falta de vontade de expor ou falar sobre qualquer coisa, sensação de estar em um loop sem fim no qual mal se publica algo e já é preciso pensar na próxima postagem. E por aí vai…
Ao mesmo tempo, estamos falando da plataforma mais utilizada pela população brasileira, o que torna inviável a ausência de muitos profissionais por lá. (Haha, parece que rodamos e chegamos no mesmo lugar? Pois é, é nessa roda de hamster que estamos mesmo!)
🚪Há saídas?
Olha, a menos que o Zuckerberg – ou a Virginia – reunisse todo mundo para um pacto geral de viver e criar na velocidade da vida, postando cada vez menos e making Instagram great again (o que só aconteceria em um filme distópico 🎬), o que me vem à cabeça é:
👉 Para quem precisa do Insta para divulgar o próprio trabalho:
Prestar concurso público e não precisar de redes sociais pra nada.Esmiuçar, sempre, novas e antigas formas de gerar conversas e divulgar seu corre, online e offline. Sim, dá trabalho.
Focar no próprio nicho. A gente se habituou a acreditar que bom é o que tem muitos seguidores, muitos likes, muito compartilhamento. E realmente pode ser. Mas a maioria das pessoas não precisa de tanto para a sua vida profissional.
Criar/encontrar sua comunidade. Apesar de muita gente falar de comunidade como se tivesse descoberto a roda, elas estão ali, na origem das civilizações. E é pra lá que estamos voltando.
Enxergar a plataforma como um meio de distribuição de conteúdos que estão em outro lugar.
👉 Para quem está tentando lidar com o vício do scroll
Limitar o tempo de tela e resistir à tentação de clicar no “ignorar limite”. É o que funciona por aqui. Meu limite é de 15 minutos por dia, salvo quando preciso trabalhar ou pesquisar algo.
Apagar o aplicativo e acessar pelo desktop. A experiência muda completamente.
Fazer um detox de dopamina. Parece ironia, mas algumas soluções já estão até sendo vendidas por meio do próprio Instagram. Você já viu os anúncios de apps que prometem te ajudar a fazer um Dopamine Detox?
Fazer uma Digital Detox Travel. Não acredito em Detox Digital, mas as agências de turismo já estão com tudo vendendo pacotes com essa promessa. Parece piada, mas esta matéria da Forbes faz mesmo jus à frase “offline é o novo luxo”.
É isso, minha gente. Simplista, aparentemente, mas é o que temos pra hoje. No mais, como bússola, talvez também possamos ter em mente a pergunta: “Mas, peraí, eu vou continuar dando conta de tudo isso que estou fazendo agora em 2030?” 🤔
Enquanto isso, na Pessoa Física
*O texto acima deu tanto trabalho que foi na conta PJ.
🏠 Sobre o bem que ficar sozinha (de vez em quando) faz
No dia 31 de janeiro, completei dois anos vivendo na Itália. Desde então, eu não tinha ficado mais de um ou dois dias sozinha em casa. Mas eis que Mario mudou de trabalho e precisou viajar por quase uma semana para a França (nada mal 😌).
Confesso que, ao receber a notícia, senti um aperto no coração. Nossas perdas nos deixaram um grude. Mas bastou ele virar a chave ao sair para que eu sentisse um profundo bem-estar. Nem eu sabia que estava com tanta saudade de ficar na minha própria companhia 🧘♀️.
Aproveitei a nossa casa, alinhei meus chakras, ganhei clareza sobre uma série de objetivos e agora sinto que o ano começou de verdade ✨. E é só isso mesmo.
Em outras redes
Já nos conectamos pelo LinkedIn?
E pelo Instagram? Sim, gente, eu estou lá!
Mesmo em hiato, ainda te convido a ouvir o Ouvidorama, meu podcast. As conversas continuam atuais.
👋🏼 Até a próxima!